A leitura como propiciadora de saúde psicológica
Sigmund Freud se utiliza, muitas vezes, de escritos de grandes autores para mostrar como se articula seu pensamento quando vai tecer alguma consideração sobre algum mecanismo psicológico que detectou e que vai esmiuçar teoricamente.
Vejam este pequeno trecho de um artigo seminal dele, que chamou de “Os que fracassam quando triunfam” .
Como pôde acontecer que a aventureira de vontade livre e ousada, que sem escrúpulos pavimentou o caminho para a realização de seus desejos, agora se recuse a colher, quando lhe é oferecido, o fruto do sucesso? Ela mesma nos dá a explicação no quarto ato: “É justamente isso o mais terrível, que agora — quando toda a felicidade do mundo me é entregue nas mãos —, eu me tenha tornado uma pessoa cujo caminho para a felicidade é obstruído pelo próprio passado”. Então ela se tornou outra nesse meio tempo, sua consciência despertou, ela passou a ter um sentimento de culpa que lhe impede a fruição”.
Trata-se de uma peça teatral escrita pelo dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, de 1886. Chama-se Rosmershol, relata as lutas interiores do personagem Rosmer, cuja esposa Felícia se suicidou, e Rebecca West, que cuidou de Felícia e agora vive sob o mesmo teto de Rosmer. As convenções políticas e sociais se insinuam em seu relacionamento, assim como a culpa pelo suicídio de Felícia, de forma a revelar, aos poucos, a fragilidade humana e a guerra de princípios e paixões, caminhando para a única forma de vencer e se libertar, através da entrega em um trágico final.
Rebecca conquistou o que desejava, enfim, mas não se sente satisfeita, entra em depressão com o desfecho, com as consequências de suas artimanhas. Fracassou, quando triunfou, quando conquistou o que queria.
Este me parece ser um bom exemplo de como a leitura pode nos estimular reflexões que vão trazer grandes contribuições para aspectos específicos de nossas vidas, promovendo maior saúde psicológica por nos fornecer outros modelos de identificação.